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Entrevista: Com perda de R$ 60 bi, Abrasel quer reparação a restaurantes e bares

Para Paulo Solmucci, bares e restaurantes voltarão a faturar no mesmo nível de 2019 a partir do 2º semestre

A crise provocada pela pandemia do coronavírus causou o fechamento de estabelecimentos e a perda de empregos, além de grandes prejuízos para bares e restaurantes, que deveriam ser reparados por esses efeitos. Essa é a cobrança feita por Paulo Solmucci, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em entrevista ao Guia, sob a alegação de que eles foram proibidos de funcionar por decisão dos gestores públicos.

Se, em março de 2020, a Abrasel apontava para uma redução nas receitas dos bares e restaurantes brasileiros em mais de R$ 40 bilhões em função da pandemia, esse número acabou sendo maior ao fim do ano passado. Segundo o presidente da associação, o setor perdeu em 2020 cerca de R$ 60 bilhões em faturamento, que foi de R$ 175 bilhões, contra os R$ 235 bilhões do ano anterior.

O impacto dessa redução de receita, claro, foi devastador para bares e restaurantes, tanto que uma pesquisa da Abrasel mostrou que 76% dos estabelecimentos estão com algum tipo de pagamento em atraso durante a pandemia. E a expectativa é de que o segmento demore de dois a cinco anos para conseguir retornar ao endividamento normal.

“Se em maio de 2020, a Abrasel estimava que precisaria da ajuda dos governos, agora, a busca também é por reparação. Nós queremos, inclusive, acionar os estados e municípios onde a associação atua para essa reparação”, analisa Solmucci, na entrevista ao Guia.

A sociedade como um todo e o poder público também, em especial, tem que entender que o setor de bares e restaurantes pagou uma conta desproporcional e injusta por um bem coletivo. Então, tem que dar um olhar especial para essas atividades que foram mais penalizadas

Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel

Apesar das circunstâncias, o presidente da Abrasel também aponta bons legados para bares e restaurantes brasileiros, como a evolução e consolidação do delivery e do take away, além de “choque de produtividade”. E, otimista, estima que a receita total de 2021 feche em torno de R$ 215 bilhões.

“Acreditamos que a partir de julho ou agosto, já teremos condições de faturar a níveis de 2019”, explica ele, revelando também que a Abrasel deverá iniciar nos próximos dias uma mobilização para cobrar uma reparação a bares e restaurantes.

Leia também – Turismo cervejeiro voltará com força ainda em 2021 e regionalizado, diz especialista

Confira a entrevista do presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, ao Guia:

Em 2020, no início da pandemia, em entrevista ao Guia, você disse que a Abrasel previa um prejuízo de R$ 40 bilhões para o setor de bares e restaurantes. Isso se confirmou? Qual foi o impacto da crise para o setor?
Esse número de R$ 40 bilhões acabou sendo maior. Nós perdemos no ano passado R$ 60 bilhões de faturamento. Em 2019, nosso setor faturou R$ 235 bilhões, em 2020 a gente fechou com R$ 175 bilhões. Estamos um pouquinho mais otimistas para esse ano, acho que vamos chegar a R$ 215 bilhões. Na verdade, a gente achava até que seria um ano semelhante ao de 2019, mas o primeiro quadrimestre foi muito ruim. A pandemia durou muito mais do que todos imaginavam e as medidas do governo encerraram as principais ajudas no final de dezembro e demoraram a retornar. Nessa caminhada desde o ano passado, nós já perdemos 300 mil estabelecimentos que fecharam e não conseguiram retomar a atividade. Nós tínhamos aproximadamente 1 milhão em março de 2020 e destes, claro que os outros abriram, 300 mil foram embora ano passado. Esse ano nós já perdemos mais 35 mil empresas e mais de 100 mil empregos. No total da pandemia, o setor já demitiu mais de 1,3 milhão de pessoas.

Qual é o cenário para o segmento de bares e restaurantes e quais são as reivindicações da Abrasel?
É um estrago muito grande, uma situação de dificuldade tamanha, que a última pesquisa nossa, mesmo com as portas abertas, mostra que 50% das empresas não conseguiram pagar o salário integralmente em 5 de maio. O setor está completamente descapitalizado e fragilizado. Já estamos buscando não só ajuda, em todos os níveis do município, do estado, do governo federal, da cadeia produtiva, mas também vamos buscar o que estamos chamando de reparação. Nós queremos inclusive acionar os estados e municípios onde a Abrasel atua, buscando essa reparação. Porque todo tipo de ajuda e essa reparação vão ser fundamental para manter o setor operando. Mesmo abrindo portas, a partir de 15 de abril, muitos estabelecimentos não estão conseguindo recompor seus cardápios porque não têm dinheiro para comprar insumos. 

O que mais poderia ser feito para auxiliar nessa recuperação? O que seria essa reparação de danos? 
A gente está avançando bastante nisso: a sociedade como um todo e o poder público também, em especial, têm que entender que o setor de bares e restaurantes e eventos pagou uma conta desproporcional e injusta pelo bem coletivo. Tem que haver um olhar especial para essas atividades que foram mais penalizadas. Têm várias possibilidades. Primeiro, a gente tem que corrigir distorções. Para você ter uma ideia, todas as prefeituras cobraram integralmente o IPTU no ano passado, sendo que a gente foi, por decreto, impedido de trabalhar. Distorções como essas precisam ser resolvidas. Nós estamos endividados com impostos, com bancos, com fornecedores e muitas vezes até com amigo, com a sogra… A questão do capital, ela tem que ser encarada com seriedade por todos do setor. Não vamos precisar de alívio nos impostos municipais, estaduais e federais. Vamos precisar que a cadeia de fornecedores ajude a buscar situações e favorecer o capital de giro seja com investimento, seja com prazos mais flexíveis. Nós vamos precisar das linhas de créditos, como o Pronampe, que era uma linha muito bem-sucedida, mas também que ela retome sem olhar as restrições que foram adquiridas nesse período da pandemia, porque senão ninguém pega empréstimos.

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Quais ações concretas a Abrasel pretende adotar para ajudar os bares e restaurantes?
Todo tipo de iniciativa ligada a capital de giro, de onde ela vier, seja do município, do Estado, da União, dos fornecedores, ela é fundamental para nos manter vivos, é o oxigênio. Agora, além de oxigênio, vamos precisar de ajuda porque estamos muito enfraquecidos. Nós vamos precisar que algum tipo de reparação seja conquistada. Nós vamos entrar com ações na Justiça com a seguinte discussão: nós fomos impedidos pelo estado de trabalhar. O estado nos empobreceu, nos tirou recursos e nos tirou a sobrevivência. Então tem que reparar isso. Para começar, nos próximos dias vamos fazer uma campanha de mobilização da sociedade para apoiar essa reparação e vamos buscar um ganho de causa nos tribunais. E, a partir daí, sentar à mesa com os governadores, com os prefeitos e ver o que pode ser feito para reparar essas perdas. Não faz sentido você deixar o setor que era o maior empregador do país, que tinha milhões de pequenos estabelecimentos e uma geração de jovens empreendedores saia aniquilada com seus nomes marcados e com a moral baixa. Nós vamos resgatar esse empresário que quebrou não por conta de suas iniciativas, mas por ação do estado. 

Quanto tempo a Abrasel acredita que os bares e restaurantes precisarão para voltar ao nível pré-pandemia?
Nós somos otimistas. Acreditamos que a partir de julho, agosto, já teremos condições de estar faturando a níveis de 2019. Ao menos no segundo semestre acreditamos que a gente possa estar faturando como há dois anos. A premissa para isso é que a vacinação continue avançando e que a gente possa, obviamente, trabalhar de portas abertas. Pesquisas no mundo inteiro mostram que onde o setor retoma, o consumidor está ávido para frequentar bares e restaurantes. Há um forte desejo do consumidor em retornar com força. Isso é muito positivo. Agora, a segunda parte dessa resposta é a seguinte: mesmo voltando o movimento, não significa que o problema vai acabar. Estamos com 67% das empresas com dívidas atrasadas, com aluguel, fornecedores e outras mais, além do salário. Em uma pesquisa, o pessoal falou que vai demorar de 2 a 5 anos para conseguir retornar as suas empresas ao endividamento normal.

E, neste momento de crise, dá para dizer que o setor evoluiu em quais pontos?
Foram bastante mudanças, podemos destacar duas importantes do ponto de vista do modelo de negócio. Primeiro, que a gente atua com avanço, ainda que não generalizado, do delivery no Brasil. Acho que com a pandemia isso se consolidou e o consumidor aprendeu a demandar mais pelos aplicativos e plataformas. Já as empresas também melhoraram suas embalagens. Agora, surgiu no Brasil uma coisa que era muito comum nos Estados Unidos, e que aqui praticamente não existia, que é o take away, na expressão, “para levar”. Nos EUA, era 6 a 7 vezes maior do que o delivery a dois, três anos atrás. O delivery tinha um faturamento na faixa de 3% e o “To Go” na faixa de 15%. No Brasil, praticamente tínhamos 0% e ele surge como uma opção de canal de venda muito interessante. Então, a primeira coisa era se preparar para lidar com esses canais. A relação com o consumidor já vinha nessa direção, mas agora se generalizou, você começa a fazer uma relação com consumidor antes de ele pisar no seu estabelecimento, na internet, no app. Você tem hoje, como destaquei agora, 3 momentos de entrega de produtos para o cliente: no salão, no delivery e no “to go” (take away). Ou seja, tem que aprender a lidar com esses canais.

Como a relação com o consumidor se adaptou a esses novos canais?
A relação com o cliente não se encerra na entrega, ela segue no pós-venda com o cliente comentando a favor ou contra. Então, o negócio ganhou uma complexidade ainda maior do que tinha.mA digitalização foi bastante acelerada, mas a relação com o cliente ficou ainda mais sofisticada e complexa para o pequeno negócio. Ou seja, lidar, aprender, e se organizar logisticamente dentro do estabelecimento para atuar nessa forma mais ampla que hoje o mercado acabou por se posicionar, é um desafio grande.

Então, dá para dizer que muitas dessas mudanças provocadas pela pandemia, provavelmente, serão eternizadas no setor?
Com certeza. A relação digital veio para valer, assim como os canais novos e a relação com o cliente, que ficou mais longa. Agora, o que a gente sabe é que pesquisas indicam que o setor vai se restabelecer e ele não tem risco de desaparecer, pelo contrário, mas ficou muito claro que a gente gosta de ser tratado por gente. Então, está todo mundo muito ansioso para consumir na mesa do bar ou do restaurante. E a percepção de valor do setor para o cidadão aumentou, porque ele viu como é ruim ficar sem a mesa do bar ou de um restaurante.

Na sua opinião, o que esperar dessa retomada na pós-vacinação?
Acho que a gente tem que primeiro entender que a vacinação é um processo que ainda vai ser esticado até o final do ano, possivelmente. E é claro que, a cada momento que passa, a gente está com menos risco e com mais esperança. Mas nós vamos ter que continuar cuidadosos e respeitando os protocolos, evitando sair de casa com os sintomas, lavando as mãos. Eu acho que esse é um alerta muito importante para todo mundo, seja o consumidor ou o operador do setor. O inimigo está ficando mais fraco, nós estamos mais protegidos com relação a ele, mas ele ainda está por aí. A gente tem que tomar muito cuidado para que esse retorno às atividades seja o mais responsável possível.

Além da pandemia, quais outros desafios precisaram ser encarados pelo setor nos últimos meses?
O setor sofreu com uma das maiores inflações de alimentos de todos os tempos. Foi de 15% e o setor conseguiu repassar menos de 5%. Esse ano começamos de novo com a pressão dos preços subindo acima da inflação. Então, nós também somos obrigados a promover um choque de produtividade. As empresas saem da crise muito mais produtivas do que entraram. Seus processos foram reavaliados, seu time, tudo. Hoje a gente tem expectativa de onde você precisa de cinco pessoas, você pode fazer a mesma coisa com quatro. Um ganho de produtividade muito relevante. Esse ganho permitiu também absorver esse choque inflacionário. Agora é preservar esse ganho que todo mundo acabou sendo forçado a ter e buscar outras formas de aumentar a produtividade, inclusive, a Abrasel tem obsessão em ser parceira do estabelecimento nessa caminhada. Hoje, nós temos um conjunto de iniciativas para apoiar o estabelecimento nessa produtividade, seja treinamento, seja em oferta de ferramentas ou de informação.

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