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Entrevista: “O cooperativismo funciona, o cervejeiro é mais aberto a compartilhar”

Matheus Aredes, fundador da Bräu Akademie, aponta que há varias plataformas para a instituição divulgar o conhecimento cervejeiro

A produção de conteúdo e sua disseminação para o crescimento e a profissionalização do setor cervejeiro podem ir muito além das aulas e cursos. É com essa visão e apostando em diversas plataformas para a divulgação do conhecimento que a Bräu Akademie tem atuado e se planeja para os próximos meses de 2021, um ano cheio de incertezas dentro do segmento e da sociedade em função da continuidade e até do agravamento da pandemia do coronavírus.

Leia também – Cooperativas cervejeiras: a necessária mudança cultural para conquistas coletivas

São esses desafios, aliás, que fazem a Bräu Akademie reforçar sua atuação muito além das aulas. A instituição reformulou recentemente a sua newsletter, agora de periodicidade mensal, para divulgar informações sobre o setor cervejeiro, e tem fechado parcerias, como uma recente com a Berggen, cervejaria de Nova Odessa (SP), que receberá cursos em seu laboratório. E, até por esses acordos, acredita que o cooperativismo pode ter bem mais êxito no setor cervejeiro do que em outros segmentos. “Eu vejo na cerveja uma possibilidade de o cooperativismo prosperar mais do que em outros mercados capitalistas”, diz Matheus Aredes, fundador da Bräu Akademie, em entrevista ao Guia.

Na conversa, ele indica essa preocupação de atuar em vários campos e os desafios que a crise trouxe, como a necessidade de adaptar os cursos da Bräu Akademie para o formato online dentro de um contexto em que o crescimento da produção de cerveja como um lazer caseiro cresceu, mas nem sempre está sendo acompanhado pela busca por conhecimento.

Além disso, ele indica os próximos passos do software inicialmente criado para funcionar como uma calculadora de amargor, mas no qual trabalha para torná-lo mais completo, como uso de outras funcionalidades, em iniciativa que certamente contribuirá para a qualificação da produção cervejeira.

Confira a entrevista de Matheus Aredes, fundador da Bräu Akademie, ao Guia:

Como você viu o impacto da crise do coronavírus em quem empreende no setor cervejeiro e como isso atingiu a Bräu Akademie?
As cervejarias reduziram, mas não desapareceram. Eu continuei dando diversas consultorias durante essa pandemia, porque tinha cervejaria abrindo e foi até o final. Assim, continuou precisando de consultoria e capacitação para funcionários. O cervejeiro caseiro até aumentou. Com diversos brews shops que eu conversei, todos eles falaram que a pandemia ajudou, porque a pessoa fica em casa e acaba fazendo mais cerveja. As vendas de insumos aumentaram. O caseiro aumentando, ele tem uma demanda maior por cursos, só que isso acaba não sendo um item básico. Ele vai primeiro fazer cerveja e não investe tanto em cursos. Então, a queda dos cursos aconteceu e foi bem grande. Na pandemia, a gente começou a distribuir uns cursos básicos e intermediários. Foram mais de 3 mil cursos gratuitos, uma forma de ajudar. A gente vê que o pessoal está mais disposto a gastar com insumo para fazer cerveja do que com estudo.

Esse aumento da produção da cerveja por caseiros é algo relacionado diretamente com a pandemia ou pode ser uma tendência que se consolidará ao fim desse período?
Eu acho que tem mais gente querendo entrar e quem fazia uma cerveja por mês, agora está fazendo duas ou três. Houve, então, a entrada de novas pessoas, como o aumento da produção de quem já fazia. Mas, eu acho que, quando as pessoas puderem sair mais de casa, vai haver uma redução. A pandemia acaba favorecendo a busca por um hobby caseiro. Eu, por exemplo, nunca cozinhei na minha vida e fui aprender culinária. Como eu, tem outras pessoas que vão inventar um hobby novo e a cerveja acaba sendo um deles.

Quais são as perspectivas de cursos da Bräu Akademie para 2021, especialmente diante de um cenário em que a pandemia parece estar longe de recrudescer?
A gente imaginava que no primeiro semestre ia começar a voltar os cursos presenciais. A gente estava com esperança, abriu turmas presenciais, mas o que a gente vai focar agora é no online. Então, nossa estratégia para o primeiro semestre é focar em cursos online. Lançamos também as mentorias, tanto para caseiro, quanto para cervejaria. Isso acabou acontecendo bastante. A mentoria é uma consultoria, mas de forma online, ela pode agregar tanto assuntos de consultoria, quanto assuntos de curso. Tem diversos assuntos, tanto de produção, quanto de abertura de cervejaria. Então, a mentoria acabou acontecendo bastante. E muito focada em quem quer abrir cervejaria.

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Diante da predominância dos cursos online, quais desafios você tem percebido nessa modalidade?
Eu comecei a dar os cursos online bem no começo da pandemia, antes só fazia as lives. Eu tive que aprender a fazer o streaming, qual plataforma usar, ter um computador novo, microfone, placa de áudio… Um curso de oito horas presencial, você transforma para o online e vira um curso de cinco, seis horas, porque a interação dos alunos é muito menor. A gente puxa o aluno para perguntar, para interagir, para abrir a câmera e falar no microfone, mas ele acaba perguntando menos. E aí, a gente, como professor, acaba falando mais para compensar essa falta de interação que o online tem. Mas, a grande vantagem do online é que você pode formar uma turma pegando uma pessoa de cada cidade. Só que a gente vê que tem uma grande massa também que não adere ao online. Acho que a próxima geração talvez faça mais cursos online do que a nossa.

A Bräu Akademie está produzindo uma newsletter mensal sobre o setor cervejeiro. Qual é a ideia desse projeto? 
A gente sempre teve uma newsletter, mas agora a gente quis colocar conteúdo. É como se fosse quase uma revista online, com a ideia de divulgar informação. Tem diversas pessoas que estão colaborando. Eu estou com uma coluna, o Ronaldo Rossi está com outra… A ideia é apostar no conteúdo

Como essa divulgação de informações se insere pela newsletter nos planos da Bräu Akademie para os próximos meses?
O meu maior projeto neste ano vai ser a criação de conteúdo, conteúdo como o da calculadora de amargor que pretendo aperfeiçoar. Gerar também outros conteúdos na área de lúpulo e brassagem. E trazer também em forma de vídeos no YouTube, com o conteúdo que está saindo na mídia lá fora, como artigos científicos traduzidos, colocando de uma forma mais fácil de entender. E depois fazer lives em cima disso, a newsletter… Então, essa é a nossa ideia para esse ano: focar na geração de conteúdo. Trazer conteúdo de fora com um entendimento mais fácil.

Você criou a calculadora de amargor. Como está o desenvolvimento desse software e quais são os próximos passos?
A minha ideia era desenvolver um software que contemple tudo, como o Beer Smith. Então, eu acabei desenvolvendo primeiro uma calculadora de amargor, que é um conceito meu. Já apresentei em alguns congressos internacionais. As outras contas, eu vou pegando do que está no mercado e vou adaptando e inserindo, como calculador de água, de malte, densidade, fermentação, levedura… E colocando tudo isso dentro do software. A ideia é fazer o software completo. E a pandemia ajudou a acelerar essa produção.

O cooperativismo é uma saída para o setor, seja para empreender ou até para se proteger em momentos de crise?
Eu acho a ideia do cooperativismo fantástica, ainda que em alguns momentos ocorram problemas de operacionalização. De forma geral, acho que o cooperativismo vem para unir o cervejeiro. Eu vim do mercado financeiro de banco. Em banco, eu não vejo o cooperativismo como uma solução, porque realmente impera o capitalismo. Já na cerveja, essa abordagem, de vamos juntos cooperar para o mercado, acontece melhor. Para a cerveja, a ideia do cooperativismo funciona, o cervejeiro é mais aberto a compartilhar e crescer. Eu vejo na cerveja uma possibilidade do cooperativismo prosperar mais do que em outros mercados capitalistas.

Vocês têm várias parcerias com associações, cooperativas e cervejarias. Com quem? E como está sendo isso?
A gente fechou uma parceria muito interessante com a cervejaria Berggren. A gente vai dar diversos cursos lá dentro da fábrica. Há outras cervejarias e bares também com parceria, como com a Cooperbreja em Ribeirão Preto, o Instituto Ceres no Recife… Damos cursos aos associados, usamos o espaço. E há contrapartidas, como o desconto para todos os associados da Acerva.

1 Comment

  • Jaime Pedro Folster Reply

    14 de março de 2021 at 09:19

    O cooperativismo, especialmente na compra dos insumos cervejeiros, pode dar acesso a muito mais pessoas a fazerem cerveja e, com isso, a expansão desse mercado . Parabéns Mateus pela dedicação.

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