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Entenda a importância dos griots, homenageados em série de cervejas

Tradição oral dos griots entrelaça relatos da história com poesia e inspirou produções da Dogma

“Eu estava lá para a travessia do rio onde escorria o ouro mais puro. Não duvidem! As palavras que eu sopro são cheias de segredos. Um para cada ouvido. Escutem com atenção. Foi entre a savana e a floresta que tudo aconteceu. Eu vi o exército de 100 mil homens. O negro e o amarelo do estandarte flamejavam como labaredas atiçadas pelos ares que insistiam em trazer os odores da batalha. Eu estava ali, a serviço do Grande Mansa, anotando tudo em minha memória. Nada me escapava. Eu segui a flecha que perfurou a arrogância. Eu acompanhei cada pulsar dos músculos férreos do chefe de guerra que disputava o comando dos homens com a própria morte. Eu vi. Não duvidem!”.

O trecho acima representa o início de um relato oral por um dos griots, os responsáveis pela transmissão de saberes e vivências por meio da expressão oral, o que lhes confere enorme importância na conservação de tradições e da ancestralidade na África Ocidental.

E a valorização da função dos griots também recebeu reconhecimento em novembro, mês da Consciência Negra, com a continuidade da série que leva o nome deles, criada há três anos pela Dogma. Em 2023, a família ganhou uma nova cerveja, a Muntu, além de uma reedição da Hantu.

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Essa novidade, portanto, volta a chamar a atenção para os griots, parte de uma tradição robusta, especialmente entre os povos mandingas, que, no século XIII, ocuparam uma extensa área da África Subsaariana, em regiões hoje conhecidas como Mali, Senegal, Gâmbia e Guiné.

Sua origem remonta aos impérios Mali e Songai, nos quais os griots eram conselheiros e depositários da história oral, transmitindo conhecimento por meio de linguagem poética e musical, como explica Monica Faria, historiadora, geógrafa e professora especialista em relações étnico-raciais.

“Os griots surgem como guardiões da linhagem oral. Como trovadores das eras, suas origens remontam aos ecos dos impérios Mali e Songhai, onde a história se entrelaça com a melodia do passado. Os griots são membros respeitados e essenciais para a coesão social”, diz.

Para preservar a memória histórica e cultural de suas comunidades, eles utilizam uma variedade de formas artísticas, como música, poesia e narração, com o intuito de transmitir conhecimento. “Os griots não são apenas contadores de histórias; são os poetas da alma coletiva. Seus tambores narrativos ressoam em celebrações e lamentações, entrelaçando-se nas complexidades das cortes reais e costurando uma trama viva que conecta as gerações”, afirma Monica.

A transmissão da história e do conhecimento pelos griots ocorre, em geral, dentro de contextos familiares, com os mais jovens absorvendo as nuances da música e as histórias relatadas pelos mais experientes, permitindo a perpetuação da tradição.

“Nas noites estreladas, a herança se torna uma canção de ninar. Os griots, como mensageiros do crepúsculo, sussurram sagas e proezas aos ouvidos sedentos das gerações futuras. Cada palavra, cada inflexão, é um legado tecido nas fibras da tradição oral”, diz a professora.

As narrativas dos griots frequentemente abrangem genealogias, feitos heroicos, tradições culturais e eventos históricos marcantes, sendo histórias que, além de entreter, incorporam lições morais e valores essenciais para a sociedade.

Suas histórias não são meros relatos; são sinfonias que entrelaçam mitos, enredos épicos e parábolas morais. Cada performance é uma jornada pelas paisagens da identidade, onde a verdade é um caleidoscópio de significados

Monica Faria, professora especialista em relações étnico-raciais

Adaptação aos novos tempos
De acordo com a historiadora, mesmo em um cenário de desafios provocados pelas mudanças sociais e em um mundo moldado pela digitalização, os griots se reinventaram e continuam sendo importantes. “A tradição, agora, é uma melodia que transcende o tempo, abraçando o passado enquanto dança para o futuro. É importante salientar que os griots não são pessoas do passado; eles estão entre nós e hoje incorporaram instrumentos musicais modernos e, em alguns casos, gravam suas músicas para alcançar audiências mais amplas”, afirma.

Eles se assemelham, assim, ao que tem sido feito pelos historiadores ocidentais, embora com abordagens diferentes para a preservação da história, pois os griots baseiam-se na oralidade e na musicalidade para a transmissão de narrativas.

“Os griots pintam com pincéis de emoção. Suas narrativas, como tapeçarias coloridas, não se limitam a datas e eventos; elas exploram os corações e mentes, entrelaçando a história com a poesia da existência”, conclui Monica.

As cervejas da Dogma
Lançada há três anos, a série Griot foi concebida pela Dogma com a curadoria dos sommeliers Glauco Ribeiro, Sara Araújo e Sulamita Theodoro, sendo compostas atualmente pelas cervejas Muntu, Hantu e Kintu.

Recentemente lançada, a Muntu é uma American IPA de corpo médio, amargor presente e aromas cítricos e herbais que a tornam uma cerveja refrescante e complexa, de acordo com o descritivo. Seu nome vem do bantu, um tronco linguístico que nasceu no século I e que deu origem a mais de 400 idiomas em todo o continente africano.

Já a Hantu, que ganhou seu segundo lote recentemente, tem acidez moderada, aroma e sabor de caju em primeiro plano, complementado pelo cajá. Notas de mel e mineral provenientes do melado de cana. Tem um aroma levemente amadeirado, lembrando um pouco de coco devido ao lúpulo utilizado, o HBC 472. O conjunto é complementado pelo condimentado, cítrico e frutado de uma das leveduras da Dogma, segundo o descritivo divulgado pela marca.

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