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Ribeirão sofre com Covid-19 e se reinventa para manter força do mercado cervejeiro

Segundo dados da Abrasel, em Ribeirão Preto, cerca de 30% das empresas do setor já fecharam definitivamente as portas

Vista como um dos principais polos cervejeiros do Brasil, com a presença de conhecidas e premiadas marcas, a região de Ribeirão Preto também está entre as que mais sofrem com os efeitos da pandemia do coronavírus. O cenário assola a sociedade e as famílias, abaladas pelas mortes, e atinge esse importante segmento da economia local. Restou aos empreendedores locais o desafio de se reinventarem para que fosse possível manter suas empresas ativas.

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Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em Ribeirão Preto, cerca de 30% das empresas do setor já fecharam definitivamente as portas. Metade do quadro de funcionários anterior à crise foi demitido, com os cortes ainda podendo atingir 60% dos funcionários. E isso se deu por causa de uma queda estimada em 80% das vendas desde a adoção das medidas de isolamento social.

O efeito da crise sobre as receitas foi grandioso, como relata André de Polverel, presidente da Cooperbreja, a Cooperativa de Cervejeiros do Brasil. E para o prejuízo não ser maior, foi preciso alterar o foco do modelo de negócios, algo que passou, obrigatoriamente, por um “olhar digital”. Com bares e restaurantes fechados, se reforçou – ou até mesmo se criou – o serviço de delivery, uma alternativa que ainda deve perdurar por algum tempo.

“A crise provocada pela pandemia do coronavírus afetou principalmente as vendas realizadas aos nossos clientes no PDV devido às restrições de funcionamento impostas ao comércio local.  Temos tentando contornar essa situação investindo nos canais de comunicação com o nosso quadro de cooperados e promoções exclusivas”, aponta André.

Mas o delivery não veio sozinho. Algumas empresas o uniram a uma política de preços que permitiu a manutenção do consumo em um período de crise financeira. “Criamos um segmento de delivery com uma política de preços diferentes para nos tornar atrativos. Temos bons resultados, com volume de venda praticamente igual ao com o bar aberto, mas com preços mais baixos. Estamos sobrevivendo à tormenta”, relata Rafael Moschetta, sócio-proprietário da Weird Barrel.

Fase vermelha
Foi a estratégia adotada a partir da necessidade de alterar planos para se adaptar a uma mudança na experiência do consumo da cerveja, agora concentrada em casa. É um cenário que, inclusive, dificilmente vai se alterar tão cedo, pois a região de Ribeirão Preto, composta por 26 municípios, é uma das quatro de São Paulo na fase vermelha – a mais grave do surto do coronavírus – do plano de reabertura de atividades do governo estadual, que só permite o funcionamento dos serviços essenciais. Resta, portanto, manter os investimentos nas soluções digitais.

“Houve uma mudança significativa nas experiências de consumo no setor cervejeiro em Ribeirão Preto impulsionada pelas estratégias emergenciais adotadas pelos empresários locais para conter os reflexos da crise. A logística teve de ser repensada a partir de informações colhidas nas redes sociais e apps estruturando ações customizadas envolvendo delivery, drive-thru, take-away e clube de vantagens”, avalia o presidente da Cooperbreja.

A Cervejaria Maltesa, por exemplo, precisou reinventar o seu negócio, pois tinha quase 80% da sua produção destinada para bares, restaurantes e eventos. A empresa, antes com a produção concentrada em barris, buscou novas formas de envasamento do estoque, para melhor se adaptar a novos mercados, como explica a sócia-proprietária Joice Joly Buzatto.

“Nesse momento, nós, uma cervejaria menor, conquistamos novos clientes e fortalecemos o nosso comercio local. Nos reinventamos, saímos somente dos barris para garrafas, latas e growler. E não só nós, mas sim todas as cervejarias de Ribeirão Preto tiveram de se reinventar. Com isso, muitas olharam melhor para suas empresas e assim vão voltar ainda mais fortalecidas”, projeta Joice.

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A Cervejaria Lund também reforçou suas ações no mundo digital, em uma forma de se aproximar do cliente, ainda que exista a óbvia distância. Além disso, avalia que as novas tecnologias permitem a expansão do mercado atingido.

“Um aliado importante tem sido a internet. E, através dos nossos canais, buscamos estreitar as relações com nossos consumidores. A distância é necessária, porém não é motivo para frieza nas relações, ao contrário”, diz Breno Garrefa, diretor comercial da marca. “Estamos buscando cada vez mais estreitar e fidelizar nossos clientes através do contato online e aproveitando para expandir nossa área de atuação.”

Afetada pela crise, a BR Brew foi outra empresa do polo cervejeiro de Ribeirão Preto a se voltar para o delivery. De acordo com Patrick Bannwart, um dos seus sócios, esse tipo de operação traz maiores desafios para as cervejarias.

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“Tivemos de nos adaptar rápido e focar nas vendas de delivery, que é a maneira encontrada para manter nossos negócios de pé. O trabalho para se operacionalizar isso é muito maior e exige mais dos colaboradores e dos gestores para girar e garantir ao menos o faturamento necessário para pagar as despesas fixas e a mão-de-obra”, diz.

Patrick destaca que outra estratégia foi não só focar na cerveja, mas também aproveitar a sua comercialização para oferecer outros produtos aos clientes. Além disso, ampliou os horários de realização desse tipo de serviço.  “Optamos em oferecer alguns itens de nosso cardápio de petiscos que vendemos no nosso Biergarten. Além disso, estamos trabalhando com 4 canais diferentes de vendas e ampliamos os dias e horários de atendimento ao público, tanto para retirada como delivery”, detalha.

A Invicta também buscou se adaptar reforçando o delivery, ainda que a receita seja pequena se comparada ao que se obtinha com o movimento dos bares. E, principalmente, apostou em modelos próprios para se aproximar do consumidor, como explica Alessandro Augusto, gerente de marketing da cervejaria, também revelando que agora a empresa possui o seu próprio aplicativo.

“Criamos alguns negócios novos, como o Invicta Drive Thru, que vende, através de nosso site, o growler descartável de 1 litro com nossos chopes com 50% de desconto. A novidade, que é exclusiva para Ribeirão Preto, caiu no gosto do consumidor e se tornou um negócio tradicional entre os consumidores da cervejaria”, garante Alessandro.

História e futuro
O cenário de paralisação das atividades contrastou com o contexto histórico de pujança do segmento cervejeiro em Ribeirão Preto, sempre exaltado por apreciadores da bebida e conhecedores da trajetória da indústria de bebidas na região. Mas que foi temporariamente freada por uma crise que reduziu as receitas em até 80%.

“Do campo ao copo, Ribeirão Preto tem uma longa tradição gastronômica que surgiu sobretudo pelos avanços econômicos proporcionados pela instalação em nossa cidade de cervejarias como a Antarctica e a Paulista. Esta tradição com o tempo se refletiu na abertura de um número expressivo de bares e restaurantes que movimentava a economia local até o surgimento da pandemia”, relembra André, presidente da Cooperbreja.

É uma história bem diferente da enfrentada neste momento pelo setor. Sacha Reck, conselheiro da Abrasel em Ribeirão Preto, faz uma previsão preocupante para os próximos meses das empresas do segmento, temendo o fechamento de mais fábricas, principalmente porque houve dificuldade no acesso ao crédito.

“O cenário para o setor não é dos melhores. Acreditamos que a reabertura dos bares e restaurantes, inicialmente, não alterará o cenário de prejuízos, pois o movimento deve voltar lentamente. Pouquíssimas empresas do setor conseguiram acesso ao crédito, tendo em vista as restrições de protestos e negativações. Portanto, há a probabilidade de uma nova onda de fechamento de empresas nos próximos meses, podendo a falência no setor chegar a 50% em Ribeirão Preto”, alerta o conselheiro da Abrasel.

Para acelerar a recuperação, uma estratégia será a manutenção do serviço de delivery mesmo quando for possível reabrir os bares. O sócio da Weird Barrel avalia que o uso da plataforma digital vai se consolidar, sendo um aliado importante do segmento cervejeiro durante a reabertura gradual de bares e restaurantes.

Afinal, em sua avaliação, a presença do público nas casas ainda vai demorar a reestabelecer os níveis pré-pandemia. “O movimento do salão vai cair até sair a vacina ou as pessoas perderem o receio. Mas se criou esse hábito e pode trazer bons resultados. Vai continuar com faturamento próximo do que era antes, com o delivery compensando essa perda”, diz Rafael Moschetta.

Eventos descartados
Se já é difícil prever quando os bares da região de Ribeirão Preto serão abertos, a situação é ainda mais difícil para o ramo de eventos cervejeiros. Foi no interior paulista, por exemplo, onde surgiu o IPA Day, que já teve oito edições na cidade e vinha buscando se consolidar como um evento nacional, com edições em outras localidades.

“O IPA Day é uma incógnita, ainda mais em Ribeirão Preto, onde o cenário da pandemia é mais preocupante. Não sabemos como serão os eventos, com pessoas em pé, com alta circulação. O evento sentado é insustentável, por ter pouca gente e com custo alto de open bar. Precisamos esperar as definições”, admite Moschetta, um dos organizadores do festival.

A BR Brew também tem visão e postura parecidas, tanto que cancelou todos os eventos que estavam previstos para 2020 desde o início do surto do coronavírus. “Creio que a retomada seja algo mais concreto para setembro em diante. Nós já descartamos a realização de todos os eventos que faríamos até dezembro (seriam dez entre março e dezembro), e ficamos na expectativa de ter uma retomada gradativa para os bares que são nossos principais clientes, assim como no nosso próprio Biergarten da fábrica”, detalha Patrick.

A expectativa da Abrasel é de que a retomada do setor só ocorra no próximo ano em Ribeirão Preto. “Nossa expectativa é de que o setor somente recuperará os prejuízos em 2022, desde que até junho de 2021 seja distribuída a vacina para o coronavírus”, comenta Sacha.

Resta, até lá, apostar na criatividade para manter o setor, um dos orgulhos do ribeirão-pretano, ativo. “Nossa projeção é que as coisas comecem a voltar para os eixos somente a partir de janeiro de 2021, até lá vamos segurando as pontas das maneiras mais criativas possíveis e contando sempre com o consumidor que apoia o comercio local”, finaliza o sócio da BR Brew.

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