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Entrevista: “Soma da tradição com acesso ao conhecimento faz a diferença em SC”

Autor de Anuário de Santa Catarina alerta que cervejarias do estado precisam melhorar comunicação com público

Santa Catarina não lidera em número de cervejarias no Brasil, mas, sem dúvida, é referência no segmento de artesanais, seja pelos seus importantes concursos, suas renomadas escolas, pelas festas que atraem turistas de outros estados ou mesmo pela criação de um estilo reconhecido internacionalmente. Agora, espera ampliar essa seleta lista com outra iniciativa que propaga o conhecimento: o lançamento do Anuário das Cervejarias Artesanais de Santa Catarina.

Essa expectativa de tornar o estado também referência em publicações para o segmento, inspirando iniciativas do tipo, é apresentada, em entrevista ao Guia Talks, por Jorge Mattos, autor do Anuário de Cervejarias de Santa Catarina. Com a experiência de quem atua no setor há mais de três décadas, ele detalha as temáticas que o público poderá encontrar no livro.

Além disso, o autor do anuário aponta a união entre a tradição e o acesso ao conhecimento como diferencial do setor cervejeiro de Santa Catarina. Porém, alerta sobre a necessidade de as marcas melhorarem a comunicação para se manterem mais próximas aos consumidores.

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Confira, abaixo, as principais partes da entrevista de Jorge Mattos, autor do Anuário das Cervejarias Artesanais de Santa Catarina, ao Guia Talks:

Por que um anuário da cerveja focado na indústria de Santa Catarina?
Não foi por acaso que a gente optou que esse anuário começasse por Santa Catarina. Nós não somos o maior estado de cervejarias no Brasil. De acordo com o último Mapa da Cerveja, estamos na quarta posição. E acredito que na próxima publicação do Ministério da Agricultura, a gente já estará na terceira. Mas é Santa Catarina que tem a capital nacional da cerveja. Também é em Santa Catarina onde estão duas das maiores instituições cervejeiras de ensino da América Latina. Em densidade populacional, a gente já detém a posição número 1 do ranking brasileiro, com uma cervejaria para cada 41 mil habitantes. A partir do ano passado, nós passamos a ter dois grandes concursos cervejeiros. Então, com a junção de todas essas peculiaridades, decidimos iniciar esse trabalho por Santa Catarina. E foi um trabalho que surpreendeu, de certa forma, por alguns dados. De acordo com o último Mapa, nós éramos 173 cervejarias em Santa Catarina. Ao final da pesquisa, consideramos as que se mantêm ativas e registradas no Mapa. Com as que se fecharam ao longo de toda a pesquisa, eu achei mais de 275 cervejarias. E, agora a gente, está fechando a obra com aproximadamente 250 cervejarias.

Como se deu o processo de coleta das informações sobre as cervejarias?
Como estou dentro do segmento, eu tinha uma noção de que nós éramos em torno de 140 a 170 cervejarias até 2020. Na medida em que eu me deslocava até os municípios para fazer a pesquisa, o proprietário de uma cervejaria me falava de outra, que eu ainda não conhecia. Então, para subir essa régua de 150 para 250, foi por indicação, porque posso dizer que o mercado aqui é bastante unido. Através dessas indicações e de um roteiro, percorri, durante aproximadamente três meses seguidos, dez mil quilômetros e consegui identificar 77 municípios com a presença de aproximadamente 250 cervejarias representadas.

Em sua visão, qual é o principal destaque do livro?

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O que eu considero o principal capítulo é o de análise do cenário. Eu abordo, através de dados estatísticos, o que é a cara desse mercado. Está bem claro para mim que Santa Catarina está produzindo excelentes cervejas, muito voltado para os processos produtivos. Ou seja, a gente sabe fazer ótimas cervejas. No mais, a gente tem um longo caminho. Cerca de 50% das cervejarias têm boa identidade visual, mas as demais não tratam tão bem as suas logomarcas. A gente parametrizou em cima de 5 mil seguidores nas redes sociais e nem a metade tem isso no Facebook e Instagram. A gente ainda tem uma lição de casa a fazer no que tange a tomar conta das nossas redes sociais. E menos de 30% tem site, com menos de dez tendo sites satisfatórios. No site, você precisa ter a apresentação de todo portfólio, precisa apresentar a harmonização dos seus estilos com os pratos. O que ficou claro nessas pesquisas é que se por um lado a gente aprendeu a medalhar nos concursos, ainda faltam grandes detalhes para trazer o consumidor e tê-lo mais próximo.

E quais são os demais temas abordados no livro?
O livro está separado por cem páginas de conteúdo programático, com dez capítulos. Ele abre com Santa Catarina, estado cervejeiro. Existe um capítulo dedicado ao posicionamento dos 77 municípios divididos entre as 9 mesorregiões, para facilitar a vida dos turistas e acadêmicos que queiram visitar essas cervejarias. Há um capítulo dedicado ao que a gente chama de mapa da mina, um outro de rotas cervejeiras. Tem um capítulo dedicado ao nosso genuíno e agora homologado estilo de cerveja brasileira, a Catharina Sour, de Santa Catarina para o mundo. Existe um capítulo sobre os concursos cervejeiros e lá a gente cita quem foi premiado nos dois principais. Existe um capítulo dedicado às principais instituições de ensino, então a gente aborda todo o portfólio e a forma como vem atuando a ESCM e o Science of Beer. Existe um capítulo sobre harmonização de vários estilos, com várias comidas típicas catarinenses, além de comidas típicas de boteco. Há um capítulo dedicado a mulheres cervejeiras, mostrando que elas estão na vanguarda do segmento. A gente conta desde a história do passado, iniciando pela freira Hildegarda, passando pelo presente, já apontando o futuro das mulheres cervejeiras através da ciência. Na sequência, entramos com um glossário, onde apontamos quais são as 250 cervejarias. E aí a gente dedica uma lâmina para cada uma delas. O número de caracteres nunca muda, o que muda são as histórias. Todas têm uma ficha técnica informando o endereço, número de medalhas, site, redes sociais, capacidade de produção e canais de distribuição.

Em sua visão, qual é o grande diferencial do setor cervejeiro catarinense?
Para te responder, eu vou usar o material de um capítulo onde a gente traz duas grandes entrevistas. Uma com o pessoal do site Cerveja em Foco e outra com o Carlo Bressiani, diretor da ESCM. Nela, ele diz que, pela proximidade das instituições, não tem desculpa para uma cervejaria de Santa Catarina não se preparar bem para produzir, gerenciar e planejar. Então, se por um lado nós somos um estado cervejeiro muito apoiado na tradição, da origem germânica, por outro existe um ponto que foi crucial, a abertura das portas para dividir o conhecimento. Então, esse somatório gerou um fator de conexão que vem fazendo toda a diferença na evolução do nosso resultado.

Livros como um anuário da cerveja ainda são raros no Brasil. Você espera que essa publicação deixe algum legado para o setor?
Nas trocas de conversas com acadêmicos e dentro do próprio corpo docente da instituição onde faço uma especialização em tecnologia cervejeira (a ESCM), a gente percebe que, de fato, o livro vai despertar um grande fomento para que outros estados também possam iniciar pesquisas nesse sentido. Eu mesmo já recebi convites para fazer em outros estados. Eu não rejeito, mas já estou trabalhando fortemente no anuário de 2022. Então, acho que isso vai dar oportunidade para as pessoas utilizarem o livro como referência acadêmica. E que se façam levantamentos similares em estados tão importantes como São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais… Eu sonho com a possibilidade de produzir essa informação no âmbito nacional. As primeiras sementes estão plantadas, espero que Santa Catarina possa ser essa vanguarda.

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