fbpx
breaking news New

Presidente da Abracerva prega serenidade e foco na diversidade durante transição

Nadhine França coordenava o Núcleo de Diversidade da Abracerva, tendo participação direta na confecção do código de ética da entidade

Dar sequência às ações e aos projetos da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) até a eleição de uma nova diretoria. Essa tem sido a missão de Nadhine França desde a última semana, quando assumiu a coordenação temporária da Abracerva na sequência da renúncia da diretoria, presidida por Carlo Lapolli, após o vazamento de mensagens de teor preconceituoso.

Junto com a diluição da gestão, definiu-se Nadhine como responsável por administrar a entidade até a escolha de uma nova chapa, o que ocorrerá em eleição agendada para 15 de outubro. “Entendo que meu papel é conduzir a associação de uma forma serena para a eleição de uma nova diretoria, mantendo os trabalhos que estavam em andamento”, aponta, ao Guia, a presidente interina da Abracerva.

Leia também – Abracerva convoca assembleia para eleger nova diretoria em 15 de outubro

Até então, Nadhine ocupava a coordenação do recentemente criado Núcleo de Diversidade da Abracerva, tendo participação direta na confecção do código de ética da entidade, divulgado em agosto e que estava em debate para ser implementado até o fim de outubro.

Ela admite que foi surpreendida com a escolha para conduzir a organização em um cenário de ineditismo dentro da Abracerva. “Fiquei surpresa com o convite e, ao mesmo tempo, honrada pela responsabilidade de ser a cara da associação nesse momento tão sensível”, comenta Nadhine, destacando a importância do momento vivido pela associação e por ela.

A crise provocada pela divulgação de mensagens preconceituosas de diferentes personalidades do setor cervejeiro, acrescenta ela, demonstra como a diversidade é um assunto urgente para o segmento. Mas Nadhine avisa que a sua atuação nas próximas semanas será ainda mais ampla, pois se pautará por outras demandas e necessidades da Abracerva, que não poderia ter suas atividades paralisadas nos quase 40 dias que antecedem a eleição.

“A pauta sobre diversidade foi o que pautou a minha entrada na associação e segue ainda mais fundamental. E há outros projetos de capacitação, tributação e representatividade da cerveja artesanal no âmbito político e econômico em curso. Quero apoiar a equipe da Abracerva para que o período que antecede a eleição seja tranquilo e não pause esses projetos”, conta.

Nadhine tem formação como analista de sistemas. É sommelière, membro da Confraria Maria Bonita, coordenadora do Instituto da Cerveja em Pernambuco e do Núcleo de Diversidade da Abracerva, além de colunista do Guia. E, para ela, conduzir a associação durante uma crise provocada por ataques à diversidade dentro do setor cervejeiro tem um significado especial, ainda mais por esse ser o seu principal campo de atuação no segmento.

“É muito representativo que eu esteja aqui, cumprindo esse papel. Como você colocou na pergunta, sou uma mulher negra que trabalha com cerveja há algum tempo. Tenho me movimentado com essa pauta em vários recortes do mercado cervejeiro: entre os caseiros, cervejarias, apreciadores, sommeliers e comunidade”, conclui Nadhine.

Entenda a crise
As últimas semanas no setor de cervejas artesanais têm sido marcadas pela realização e revelação de ataques a pessoas, grupos e iniciativas que buscam valorizar a pluralidade dentro do segmento que teve, em janeiro, a criação de um núcleo de diversidade pela Abracerva, inspirado no modelo da Brewers Association, nos Estados Unidos.

Em julho, um rótulo da Cervejaria Nacional foi alvo de comentários sexistas, enquanto a Implicantes, cervejaria gaúcha que afirma ser a primeira fábrica negra do Brasil, sofreu ataques racistas em suas páginas nas redes sociais quando realizava campanha de financiamento coletivo.

“A namorada de um dos sócios replicou a publicação pedindo apoio e que as pessoas compartilhassem, uma corrente do bem, super normal. E ela começou a receber mensagens de ódio no perfil dela”, relembrou Diego Dias, fundador da Implicantes, em live realizada pelo Guia.

Os ataques à empresa não se resumiram às redes sociais, também ocorrendo em grupos privados de WhatsApp, como o Cervejeiros Illuminnati, composto apenas por homens e com a presença de figuras importantes. Além da Implicantes, outro alvo de comentários preconceituosos foi a sommelière Sara Araújo.

“O racismo, a misoginia, a LGBTfobia não dão um dia de trégua sequer. Eu estou muito abalada com as mensagens violentas, racistas e nojentas que recebi. Hoje, um bando de homens brancos do mundo da cerveja achou que seria legal levar minha imagem e da cervejaria Implicantes em um grupo para vomitar os seus racismos. O ataque não foi só a mim e à cervejaria. É a todo povo preto”, escreveu Sara em seu perfil no Instagram.

No fim de agosto, na sequência dos atos preconceituosos, a Abracerva criou o seu código de ética, abrindo um período para apresentação de sugestões ao documento que aponta os princípios que vão nortear as decisões da associação em questões de conduta.

“Serve para disciplinar e orientar a relação entre associados, com a Abracerva e os clientes. Serve para orientar condutas, não é uma inquisição ou um tribunal”, detalhou André Lopes, sócio do escritório Lopes, Verdi & Távora Advogados, criador do site Advogado Cervejeiro, colunista do Guia e colaborador da associação.

Esse importante debate foi ofuscado no início da última semana com o vazamento de mensagens de teor preconceituoso e chulo, muitas delas escritas por Lapolli. Ele e sua diretoria, então, renunciaram na quarta-feira ao comando da associação, que tem eleições marcadas para 15 de outubro.

“A manutenção do trabalho da entidade e a necessidade de levar mais representatividade para a gestão da Abracerva foram apontadas por Lapolli como motivadores da decisão”, afirmou a Abracerva, agora comandada interinamente por Nadhine, em comunicado.

0 Comentário

    Deixe um comentário

    Login

    Welcome! Login in to your account

    Remember me Lost your password?

    Lost Password