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Artigo: Com cerimônia, Barcelona Beer Challenge resgata emoção e expõe união

Após dois anos sem evento de premiação, entrega de medalhas consagrou Basqueland Brewing como melhor cervejaria

*Por Andreia Gonçalves Ribeiro

A entrega dos prêmios do Barcelona Beer Challenge ocorreu no último dia da InnBrew, The Brewers Convention, a feira profissional do setor de cervejas artesanais da Espanha, como contei aqui no Guia, e se deu de modo especial. Em 2022, além do número recorde de participantes, houve a primeira entrega de prêmios, o que resgata o momento de maior emoção e importância do ano para o setor. As restrições dos dois últimos anos não permitiram que se vivesse a premiação com plateia e audiência aos nervos, contando pontos, na torcida. E, o que mais se vê aqui, união.

Não tem como. Falou em setor cervejeiro, falou em prêmios, concursos, medalhas, selos e certificados. É fato que a galera gosta e aqui não deixa de ser diferente. O Barcelona Beer Challenge é sobretudo um grande encontro e já está na história como um marco no setor, já reconhecido internacionalmente.

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Transmitido ao vivo (começa no ’51), rolou até um “bom dia, Brasil” em português, saudação feita por Milkel Rius da Beer Events, responsável pelos eventos, sendo que o concurso tem uma recente parceria com o Concurso Brasileiro de Cervejas.

Baseado nos estilos do Beer Judge Certification Program (BJCP), o Barcelona Beer Challenge concede medalhas de ouro, prata e bronze. O prêmio de Melhor do Ano foi conquistado pela Basqueland Brewing pela segunda vez consecutiva. O mesmo prêmio é estabelecido para as fábricas recém-criadas, com o prêmio Novel Brewer of the Year, que foi de novo para a Itália, mas trocou de mãos. A Birrificio Liquida ocupou o topo do pódio no lugar da Torre Mozza.

O terceiro “grande prêmio” do Barcelona Beer Challenge é o Molina for Brewers Innovation Award, que homenageia a criatividade no processo cervejeiro e foi conquistado pela Màger, uma cervejaria que, amigos ou não, lhes garanto que vale a pena buscar.

E o quarto e último prêmio, que envolve ainda mais emoção é o Steve Huxley, que esse ano foi para as mãos de Salvador Marimoon, um profissional que desde que cheguei aqui, juro, não o vi parar de trabalhar um minuto que seja. Quer maior representação dentro de um mercado que tem que ralar para acontecer do que ele? Aqui tem muita gente massa e eu gostaria de apresentar todo mundo para vocês, um dia.

Um grande parênteses inicial, porque contexto é importante
Quando me dispus a escrever sobre a premiação para o Guia, não consegui deixar de pensar que, do outro lado do monitor, pode ter gente que mal sabe da existência do movimento de cerveja artesanal espanhola. Estamos sempre muito apegados à cerveja que vem dos países das grandes escolas, como é o caso dos Estados Unidos, que chega aí com maior facilidade. Um jeito rude de ilustrar: sabemos que não se exporta muito para aí. Minha lua em Aquário não me permite não pensar no crescimento do outro, seja ele mercado, seja ele pessoa, a adquirir novas informações.

Acabei tecendo um mini-dossiê (que de mini tem nada) sobre o Barcelona Beer Challenge. Pode procurar aí e você não encontrará um texto que condense todas as informações em um só lugar. Fiz questão de buscar links para quem quiser conhecer mais as marcas, conhecer um pouco dos projetos e produtos e, quem sabe vir a visitar a gente aqui um dia. Obrigada, editor, pela consideração.

O concurso

São 64 categorias divididas em três blocos, de acordo com os critérios do BJCP: família das Lagers, depois, alta fermentação. Mikel Rius, atento à questão de ser “pedagógico”, explica que durante as análises, “competem cervejas relativamente diferentes e isso é um exercício que os juízes têm que fazer. O de entender que cada uma compete em sua categoria, ou seja, se analisa dentro dos parâmetros aos quais ela está inscrita. Logo, se avalia qual delas está mais adequada, sempre pensando que se julga dentro de sua subcategoria e, depois, opinam conjuntamente”.

Vamos ao exemplo prático, porque quem não está acostumado pode fazer confusão, coisa que eu sou especialista. Tanto que parto da explicação dada pelo próprio Rius e a incremento. Por exemplo, na categoria Standard American Beer concorreram cervejas dos estilos American Light Lager, American Lager, Cream Ale e American Wheat Beer. Nesse caso, estava aí a primeira categoria do bloco Lager que foi apresentada. Dela, saíram duas medalhas: uma de ouro para Cream Ale Guadalquibeer, de Sevilha, e uma bronze para a Artic Mosaic, que se apresenta como Session Wheat IPA da francesa Le Père L’amer. Nenhuma outra amostra garantiu pontuação necessária para ser prata, logo, a colocação ficou deserta.

Como meu objetivo é fazer conhecida a cerveja daqui, conto que a Guadalquibeer levou ainda outro ouro, na Córdoba Irish Red Ale. Já estou em compasso de bulerías, bailando (sem meus saudosos tacones flamencos que ficaram no Brasil) louca para ir lá conhecê-los. Em Sevilha, eles estão no centro da cidade, no Mercado de La Calle Feria. Guadalquivir é o nome do rio que corta Sevilha e a calorenta e calorosa cidade andaluza de Córdoba (onde está enterrado meu umbigo). “Sorria para a foto”, voltemos à Catalunha.

Para levar o canecão mais cobiçado, o de melhor cervejaria do ano, e o de melhor novata, para quem existe há menos de dois anos no mercado, ganha quem somar mais pontos. É assim: uma medalha de ouro vale cinco pontos, a prata vale três e a de bronze, resulta em dois pontinhos. “Dá quatro, vai um, menos dois são cinco”, eu confesso que se tivesse que somar ali ao vivo, lascou! “Com mais sete, vinte e um” e a Basqueland Brewing Co. venceu outra vez. Em segundo, eu não consegui fechar a conta direito e, em terceiro, a La Salve de Bilbao. Ponto para o País Basco, onde estão ambas.

Melhor Cervejaria

A bicampeã Basqueland juntou oito medalhas no Barcelona Beer Challenge. Levou dois ouros, cinco pratas e um bronze para a cidade de Hernani. Os rótulos medalhistas foram: Cat Skills, Santo Tomás, Matryoshka, S’Mores, Tiki Idol, Barrelworks Cognac, A Lager A Day e Live Forever. Foi fundada em 2015 por Kevin Patricio (de Maryland), Benjamin Rozzi (de Akron, Ohio), dois estadunidenses com passado na Port Brewing e Stone Brewing.  São cervejas bem fáceis de se encontrar e mais fáceis ainda de se encantar.

De acordo com um ranking setorial de empresas exportadoras, a Basqueland está como a 10ª em volume vendido para fora da Espanha e vende para toda Europa, especialmente para Bélgica e Alemanha e ainda, Japão e China. São receitas geniais, IPAs cada dia mais equilibradas, assinadas pelo maestro “donostiarra” Oscar Saéz e, junto aos co-fundadores, há o head escocês Cosmo Sutherland.

Iniciadas em 2018, até os últimos dados do informe de exportadores do CESCE, o faturamento em vendas externas deles tinha dobrado em 2020. Curiosa estou para saber como estão atualmente, depois dos prêmios. Será que tem Brasil na mira? Volto ao meu movimento revolucionário de uma pessoa só de “abram o coração para as cervejas espanholas”, minha gente. Eu garanto que é muito melhor que paella. Ops! Paella é de Valencia. Lá em Euskadi (nome do País Basco em euskera, idioma oficial da comunidade autônoma) soa bem dizer que seria melhor que um pintxo. Porém, o País Basco é tão alto nível em gastronomia que qualquer coisa que eu falar, serei julgada pelo meu próprio pensamento. Renuncio ao atrevimento e os convido a ousarem buscar mais sobre o que criam aqui.

Melhor Cervejaria Revelação: a “novinha” é gringa e fala italiano

Birrificio Liquida é o nome dela, de Ostellato, município da província de Ferrara, na Emilia-Romagna. Os três sócios estavam en persona para receber o prêmio. Luca Tassinati, Christian Bertoni e Luca Drudi, tutti già provenienti dal mondo della birra artigianale antes de abrir a “championíssime”. As medalhas foram em clássicos. Três. Ouro na American IPA, prata com American Pale Ale e bronze em German Pils. Tem juízo quem respeita clássicos e mais ainda quem leva “estrelas no peito”. Seja na cerveja, seja no futebol. Imagina a alegria de estar em Barcelona para receber esse prêmio. No vídeo dá para sentir a vibração. A viagem valeu a pena.

Foi bem o que li por aí em algum artigo desses dias, a de que “os italianos não vêm à Barcelona por turismo”. As cervejarias italianas, assim como em anos passados, arrebataram um punhado de medalhas. Com uma relação de amizade de muitos anos com os cervejeiros e organizadores de eventos daqui, a cada ano o número de prêmios que vão para a Itália aumenta. Se fosse a Copa do Mundo de futebol, a gente já teria entendido. A Itália é danada.

Prêmio Inovação Molina for Brewers

Este é o terceiro ano que a maltearia patrocina este prêmio. Ainda bem que eu não sou jornalista e não preciso parecer imparcial. Eu fiquei estalando de alegria com o resultado. É que nem futebol. Sou Galo e pronto. Na cerveja, ¡dame las ácidas! E a Màger levou o Molina for Brewers Innovation Award (não aguento esses nomes em inglês farialimer)! Concorriam ao certame de processo criativo na fabricação de cerveja cinco finalistas. Cervejaria Castrum, com a Quadruppel; a valenciana Cervesa Tyris, com Tyris Orangito; barcelonesa Animus Brewing, com Swept Aside; AndBeer de Andorra, com Hidrobeer; e a catalã Cervesa Màger, com Dolça Sour.

A Dolça Sour é um resgate à técnica vi bullit, em tradução livre, vinho fervido. Uma técnica da elaboração de vinhos que está quase esquecida. A Màger fica em La Llacuna (Barcelona), e o mestre-cervejeiro responsável é Àlex Puig. E o que fazem ali? Cervejas azedas, de fermentação selvagem e mista que derretem meu coração peludo de amor. Puig é da região vinícola com denominação de origem, Penedès. É daí e de sua experiência prévia trabalhando nas cavas e vinícolas da região que vem a expertise. Em entrevista ao La Vanguardia, ele disse que “funde técnicas muito semelhantes e traz essa parte selvagem às cervejas”.

Àlex quer mais é que outros cervejeiros repliquem o processo e que a Sweet Sour, nome que ele batizou o estilo, vire uma realidade. Conheci o Àlex e a Mireia em julho de 2019 na feira de cerveja de Jafre, a uns 30km daqui de Girona. Na ocasião, queria ter uma cadeira de praia para ficar sentada ali de frente à barraca deles, bebendo a Wild Beats. Era uma Berliner Weiss maturada com framboesas que ganhou como “la cervesa de l’any” do evento. Perfeita para aguentar aquele calor de 40ºC do inferno que é o verão europeu. Na verdade, eu queria trocar o filtro daqui de casa por barris da Màger. Foi paixão ao primeiro gole. Eu torço para eles que nem em partida do Galo mesmo. Merecidíssimo prêmio.

Prêmio Steve Huxley

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O Steve Huxley Lifetime Achievement Award (misericórdia diabo de nome extenso que até clamei “mi’a Nossa Senhora da Abadia’Água Suja”, nome da santa que acode o povo da minha terra Patrocínio) também foi entregue nesta gala, dessa vez pelo vencedor anterior, Andrew Dougall. Nesta edição, optam pelo prestigioso prêmio Guillem Laporta, do Homo Sibaris; Susana Giner, da 2D2Dspuma; Boris de Mesones, da Boris de Mesones Engenharia Cervejeira; Guzmán Fernández, do Cluster Cerveja Artesanal; e Salvador Marimon, da Install Beer.

O “Salva” está envolvido em tudo que é evento cervejeiro, bar novo, projeto de restaurante e é até um dos sócios do Barcelona Beer Festival. O troféu de flor de lúpulo lhe caiu muito bem.

Categoria nova: Platinum

Este ano, como grande novidade, o evento criou a categoria Platinum, que distingue as cervejarias que obtiveram cinco medalhas no Barcelona Beer Challenge, mas em anos diferentes. “O objetivo desta nova categoria é valorizar o trabalho bem-feito e constante dessas cervejarias, que ao longo dos anos conquistaram medalhas, até cinco, nos sete anos de história do evento”, diz a organização.

Premiada na categoria Strong American Ale, essa Red IPA é complexa, vem mais alcoólica e maltosa que uma Red Ale normal (claro, Andreia, é imperial), por isso se enquadra no estilo que concorreu. Já são cinco anos recebendo medalha. A cervejaria Arriaca foi fundada em 2014, sendo a primeira a usar lata no setor artesanal espanhol.

Porter, com lúpulo três tipos de lúpulo, porém inovadora. A marca registrada da cervejaria de Sóller são as laranjeiras, produto de cultivo local. Na Fosca, agora também por cinco anos consecutivos ganhando medalhas, uma parte do malte é trigo. E se utilizam, claro, de flor de laranjeira e cacau.

Antes, um armazém de beneficiamento de grãos. Hoje uma senhora cervejaria que nos beneficia com cervejas em um senhor espaço de degustação em Cardedeu. O prédio assinado pelo arquiteto modernista Cal Peó fica no centro da cidade e dali saem produtos que fazem referência ao passado carvoeiro da região de Vallès, como essa Irish Extra Stout, com maltes defumados.

A eleição dos vencedores
A análise das amostras pelos jurados do concurso se realizou no início de março, no Clúster Craft Beer em Lliçà d’Amunt. Um total de 1.315 cervejas de 215 participantes bateram o recorde das edições anteriores, mesmo que a cada ano saiam críticas sobre a participação e conquista de medalhas por grandes marcas da indústria cervejeira do país.

De acordo com a organização, participaram 60 juízes profissionais de 15 nacionalidades diferentes, na função de pontuar a análise sensorial. São 64 categorias e alguns estilos seguem uma lógica diferente da que estamos acostumados no Brasil, que seria BJCP “puro”. A lista de medalhas tem 178 premiadas com a possibilidade de usar o selo da medalha até o próximo ano.

O local escolhido para a atuação do júri também pode receber visitas guiadas ao espaço, que é como uma incubadora de cervejarias, oferecendo cursos, e tem vários profissionais de ponta reunidos para dar gás na economia da cidade de Can Malè a partir do setor cervejeiro. As candidatas puderam se inscrever até 23 de janeiro, com as amostras sendo enviadas de 7 a 18 de fevereiro. O preço das inscrições variava de 145,20€ para uma única amostra, com descontos progressivos, até a bagatela de 764,72€ para 20.

Uma informação, reforçada pelo organizador do evento e mestre de cerimônias Mikel Rius na abertura da celebração, é que o Barcelona Beer Challenge foi reconhecido este ano pelo EBCU (European Beer Consumers’s Union) como um dos principais concursos cervejeiros europeus (são nove e você pode conferir quais aqui).

Prêmio para a grande indústria vale?
Grandes cervejarias voltaram a participar e até mesmo repetir prêmios, como é o caso da Mahou Cinco Estrellas que levou prata pelo terceiro ano consecutivo em International Pale Lager e repetiu o ouro de 2021 com a Maestra Dunkel, como Dark European Lager. Podem me julgar. Eu compro essa cerveja direto. Bom, até aí, nenhuma surpresa. Certamente é parte da política da empresa participar de concursos, porque a Mahou está como a cervejaria mais premiada da Espanha, com 87 prêmios internacionais desde 2018. O bom de ser grande é poder pagar para participar de tudo, né?

Outra conhecida que papou moedinhas foi a Founders com sua Oktoberfest. E a La Salve levou quatro medalhas. Repetiu o ouro na Lager e tem grandes chances de uma possível platinum aí pela frente.

E volto à minha pergunta inicial… Enquanto algumas cervejarias têm milhões para investir em qualidade e marketing, para as nanocervejarias – como é o caso da acachapante maioria que participa deste concurso – se pode considerar ser difícil até mesmo investir na inscrição de um concurso desses. Por isso, ficam perguntas: deveriam os concursos “proibirem” a participação das grandes? Ou criarem algum tipo de regra especial para as Lagers, categoria que mais gera essa polêmica?

Mas se pensamos que todas as amostras são analisadas às cegas, em um copo x, por vários juízes, então se pode tirar diferentes conclusões. Uma é que em qualidade, independentemente do orçamento, rola para os dois lados, ou seja, temos cerveja boa saindo de tanques enormes e de pequenas cozinhas. É o caso da cervejaria Cacho Beer, que se não me engano, levou medalha pelo terceiro ano consecutivo. O nome vem de alcachofra, utilizada na receita. São nano, mas também são prata em International Amber & Dark Lager. Não sei se isso é uma análise ou uma opinião, mas se quiser me responder, acho interessante a gente debater o tema.

Então a senhora quer dar opinião?
Olha, gente… Tá dureza bancar meus luxos e a vida de “sommeliêzice”. Definição dada à chatice de “só bebe artesanais” dada pelo meu grande amigo Elmer Dantas lá por 2015, quando a gente saía para encher a cara em São Paulo.

Voltando ao que interessa e baseada em experimentações anteriores e/ou opiniões de conhecidos dignos de nosso respeito, selecionei algumas das cervejas que ganharam medalha para que elas não sejam apenas um nome, mas que ganhem alguma vida, uma história:

Medalha de Ouro

  • Respect, Russian Imperial Stout, da Gro Brewers: a cervejaria “d’en Marc i en Pep”, meus companheiros de associação daqui de Girona. Os caras faziam cerveja, cada um na sua casa. Dois apaixonados por cervejas potentes – seja em tosta, seja em IBU, seja em sabor – resolveram se juntar e criaram a Gro que já tem uns 14 rótulos no mercado e “tá que tá” com as colabs. O “obrador” deles, nome dado à fábricas de cerveja em catalão, que produz receitas de até 1.800 litros cada lote, é fácil de chegar e está com as portas abertas para receber interessados em conhecer as criações deles.  
  • Bruna del Pirineu, Belgian Dark Strong Ale da Poch’s: Castellfollit de la Roca é o nome da cidade onde fica o obrador e taproom do Francesc. Ano passado, pegou prata, mas já são cinco medalhas, sendo três de ouro e a Bruna (morena, em catalão).

Medalhas de Prata

  • Blumenau CraftLab Grodziskie, Historical Beer da Cervejaria Blumenau: o rótulo levou prata na categoria do estilo que foi destaque no Guia, assim como a Mestres do Tempo Lambic #2, da marca catarinense, no estilo European Sour Ale. Em 2019, a Brotas já tinha ganhado duas medalhas de prata e uma de bronze. Investir em concursos internacionais depois da onda da pandemia, é um realmente um risco, por vários fatores. Mas se vem na mala junto a juízes convidados, essa probabilidade de pouco retorno sobre o investimento é diminuída. O carinho com o qual a amostra viaja é outro, não é mesmo?
  • Black Block Bourbon 2021, Imperial Stout Wood Aged da La Pirata Brewing: faz umas duas semanas que recebi a sorte de poder sair com vida de uma degustação guiada pelo Aran no B112 de Girona. A primeira servida foi a Imperial Stout base de 11%, sem barrica, “suavona”. Gente boa ela. Sabe aquelas pegadinhas que você se apaixona, mas em seguida vêm mais seis na cola? Pois é… Bourbon, vinho do Empordá, barrica de guardar peruca, barrica de Jerez, rolou uns brownie que ainda não sei se foi real ou sonho… Só sei que chipa, untappers! Eu bebi todas as Black Blocks do rolê. Sou agora uma pessoa que tem a força, sou invencível. Zerei a vida.

Medalhas de Bronze

  • Sour Power, na categoria European Sour Ales, da Juguetes Perdidos: nunca bebi, mas está como dos meus estilos prediletos e destaco porque pode ser que dê para encontrar por aí. A Juguetes Perdidos, da Argentina, chegou aqui no começo do ano. A hermana levou seis prêmios e eu só não dei destaque em ouro porque, né, argentinos, lamento. E Plata é muito “Rio da Plata”. De clichê digo que colocar a Juguetes como exemplo no bronze não fui eu, “fue la mano de Dios”. Bom, deles bebi a “Gose&Tonic”, com pepino e zimbro. Minha amiga peruana Dessirè, chef de cozinha, amou.

Dessa vez, não foi possível acompanhar a premiação pessoalmente porque concomitantemente ocorria uma feira de cervejas rústicas em Santa Pau, interior da Catalunha. Com o pouco do que conheço daqui, sei como é danado para cervejarias participarem e gostaria de transmitir meus parabéns a cada um dos vencedores de medalhas deste Barcelona Beer Challenge, e, claro, a cada um dos participantes e à organização. Especialmente à Anna Portavella, que corta um dobrado para tudo acontecer.

Também vou pedir desculpas públicas para a Mireia, da Máger. Sou tão atenta a detalhes, que às vezes o óbvio me passa despercebido. Antes de ir embora da Rustic&Wild – feira que me fez perder a premiação do Barcelona Beer Challenge – fui até o estande deles para pedir a gentileza de lavar minha taça para levar para casa. Lavado? Sim, mas saí dali com um chorinho (choríssimo, no superlativo, de presente, nesse caso) de uma garrafa comprida das que tinha lá.

Na pressa para não atrasar minha carona, nem vi o troféu que estava ali, todo lindão, reluzente na minha frente! Gente, que vergonha! Não os parabenizei e ainda tive a honra de beber a principal vencedora do concurso, assim, de presente e sem saber do ouro que era. Mentira, porque tudo deles eu bebo como se fossem gotas do perfume da Vênus, lágrimas da lua cheia, a fonte da juventude, eu sei lá como descrever… Ai, credo, que delícia!

Muitas das cervejas que ganharam são locais. Locais no sentido locais mesmo, só se encontra em um raio de poucos quilômetros de distância das fábricas. E muitas delas, edições especiais. É interessante analisar que quanto mais nova a fábrica, maior o atrevimento para criar receitas, enquanto as pioneiras se mantêm fiéis a estilos já bem aceitos pelo público.

Sabe aquilo de “beba menos, beba melhor”? Pois acredito que o leva “pese menos, desfrute melhor” poderia ser utilizado nesse caso. E “respeita as mina”, não importa onde for.

Quer conferir todas as premiadas no Barcelona Beer Challenge? Clica no link.


*Andreia Gonçalves Ribeiro é mestra em Turismo Cultural Gastronômico e em Patrimônio, pela Universitat de Girona. Sommelière de cervejas pelo ICB e sommelière bartender pela ABS-SP. Mineira e atleticana – caipira hooligan – pesquisa sobre a cerveja e seus fenômenos na Catalunha, onde também estuda Antropologia. Se deixar, “só toma azeda” e tem queda assumida pelas cervejas belgas.

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