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Encontro Selvagem cresce com internacionalização e mira na ruralidade

Cenário da cerveja ácida brasileira foi tema de debates em São Paulo, na Tarantino (Crédito das fotos: Gabriela Di Bella)

Se a cerveja ácida brasileira busca conquistar novos apreciadores e mercados, um evento mostrou caminhos a serem seguidos para tornar esse objetivo realidade. Realizado durante dois dias na cervejaria Tarantino em São Paulo, o Encontro Selvagem reuniu especialistas e cresceu significativamente em sua segunda edição, ampliando seu foco para a internacionalização, ao mesmo tempo em que busca se conectar com a ruralidade, que deverá ganhar mais espaço nos debates em 2024.

Após sua estreia em 2022, o Encontro Selvagem retornou em 2023 como parte central da Semana Selvagem. Este evento ocorreu entre o lançamento da primeira safra das cervejas do Projeto Manipueira e a realização da Feira Selvagem, que permitiu ao público degustar produtos de 25 cervejarias.

Leia também – Feira Selvagem coroa Manipueira e abre caminho à cerveja de DNA brasileiro

Em 2023, o Encontro Selvagem cresceu. Organizado pela Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) com o apoio do Conselho Federal de Química, o evento mais do que duplicou o número de atrações em comparação com a edição inaugural de 2022, realizando quase 30 atividades, muitas delas simultâneas, divididas entre o palco principal na Tarantino e uma sala reservada para workshops sobre cervejas ácidas e outras abordagens.

“Conseguimos expandir o evento, abordar tópicos cruciais e aprofundar nosso entendimento sobre a cerveja selvagem como produto. Além disso, nossa conexão com as cervejas da América do Sul se fortaleceu de maneira irreversível”, afirma Diego Rzatki, idealizador do Encontro Selvagem, refletindo sobre o crescimento do Encontro Selvagem.

O evento buscou conectar a produção de cerveja com os diversos aspectos e campos de atuação relacionados ao universo da bebida. Ele apresentou resultados científicos sobre o uso de leveduras no Projeto Manipueira e discutiu o futuro de sua aplicação na produção de cervejas, com enfoque específico nas leveduras Saccharomyces e Brettanomyces brasileiras, incluindo a recém-lançada Star Brasilis.

Além disso, destacou a importância da química no desenvolvimento das cervejas ácidas, promovendo uma maior colaboração entre a indústria e a academia. Profissionais da área estiveram presentes, e o Conselho Federal de Química (CFQ) apoiou ativamente a organização do evento.

“Ficamos muito felizes com a presença de muitos profissionais da química, incluindo pesquisadores e cervejeiros. Isso representa um avanço significativo para o Conselho Federal de Química. A profissionalização no setor cervejeiro é fundamental, e este é apenas o primeiro de muitos eventos em que estaremos presentes”, afirma Suely Abrahão Schuh, representante do CFQ.

Malte de milho em debate e na prática
Ao olhar para potenciais de desenvolvimento da cerveja, o uso de malte de milho foi uma temática importante. Pesquisas têm indicado a possibilidade de produção de malte a partir de variedades de milho, o que entusiasma os envolvidos no setor. “Estamos considerando o malte de milho como uma nova matriz de produção de cerveja no Brasil,” comentou Rzatki.

“É importante lembrar de uma característica do milho: ele não contém glúten. É de se esperar que o mercado tenha um olhar especial sobre o malte de milho em função disso”, afirma Marcos Odebrecht Júnior, da Maltaria Catarinense, que participa diretamente dos trabalhos de desenvolvimento do malte de milho, apontando um caminho a ser aproveitado por essa variedade.

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Embora o processo esteja em estágios iniciais no Brasil, exemplos inspiradores foram detalhados durante o Encontro Selvagem, vindos do Peru, com as chichas de milho, apresentadas por representantes da Victory Brewery. Eles destacaram a tradição da malteação de milho em seu país, onde isso é relativamente comum.

A presença internacional no Encontro Selvagem também incluiu Gert Christaens, gerente de produção da Oud Beersel, que abordou como as Lambics estão profundamente associadas à identidade da cerveja belga.

O evento abriu espaço tanto para a prática quanto para a troca de ideias, explorando as bebidas fermentadas dos povos ancestrais, como o cauim, e discutindo a brasilidade na cerveja, um tema central para o Projeto Manipueira.

“O evento trouxe à tona a importância da brasilidade e da especificidade do território, fatores fundamentais para o crescimento do setor com base em sua identidade”, avalia Eduardo Marcusso, consultor do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Um curso avançado de análise de cervejas ácidas complexas também atraiu atenção, oferecendo uma oportunidade para propagação do conhecimento entre profissionais do setor. “Os treinamentos foram altamente especializados e destinados a auxiliar na formação de profissionais que já atuam ou desejam atuar com cervejas selvagens”, comenta Rzatki.

Conexão com a ruralidade
Também projetando o seu próprio futuro, o Encontro Selvagem promete um olhar especial para a ruralidade na sua próxima edição, em 2024. “A necessidade de conexão nos leva ao passo de pensar na importância de nos conectarmos com os produtores de insumos. Eles são fundamentais para a cerveja ácida”, comenta Rzatki.

A ideia é estabelecer uma conexão mais próxima com os produtores locais de insumos, e para isso, Filipe Araújo, da Zapata Cerveja Rural, foi definido como um dos co-curadores do próximo evento. “Precisamos entender e explorar as características rurais de cada produto utilizado na cerveja, incluindo a manipueira, a mandioca e o milho. Isso implica desvendar o conceito de terroir não apenas em termos de solo e clima, mas também em relação às pessoas, trazendo o homem de volta à natureza”, enfatiza.

Assim, o presidente da Abracerva, Gilberto Tarantino, acredita que o Encontro Selvagem, além de consolidar sua posição na agenda de eventos cervejeiros do Brasil em sua segunda edição, está pavimentando o caminho para a criação de produtos com uma identidade genuinamente brasileira e suas múltiplas possibilidades.

Foi um evento repleto de cultura cervejeira, reunindo pessoas de diferentes regiões do Brasil, da Europa e da América. Foi o primeiro passo para destacar a cerveja ácida do Brasil, especialmente devido à qualidade das apresentações, com profissionais acadêmicos transmitindo anos de conhecimento sobre temas como leveduras e madeiras

Gilberto Tarantino, presidente da Abracerva

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