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Entrevista: “Poderá faltar malte, tem muita incerteza no mercado”

À frente da nova fase da Granobrew, Ricardo Negretto tem buscado lidar com as oscilações do mercado de malte

O cenário para quem lida com malte dentro do mercado cervejeiro tem sido desafiador nos últimos meses, um contexto que não deverá se alterar tão cedo. Se o início do ano foi marcado pelo freio nas vendas, em função de uma nova onda do coronavírus, a quebra da safra da cevada em alguns produtores internacionais e a consequente alta dos preços no segundo semestre provocam um contexto que deixa muitas incertezas para 2022.

Esses desafios foram abordados em entrevista do Guia com Ricardo Negretto, diretor técnico e comercial da Granobrew. Enquanto encarava essas oscilações do mercado, a companhia passou por mudanças estruturais, se tornando um player independente no setor de maltes.

A Granobrew, afinal, se desligou do braço tecnológico de bebidas da multinacional holandesa Corbion, com a qual esteve ligada nos últimos anos. E a companhia, importadora exclusiva dos maltes Viking para o Brasil, já conseguiu apresentar bons resultados nessa nova etapa, iniciada em julho e que coincidiu com esse período de retomada, de acordo com Negretto.

Na entrevista, ele comenta, ainda, como a Granobrew tem se preparado para minimizar os riscos que se apresentam a todos que trabalham com maltes e reconhece que o ingrediente, um dos básicos para a fabricação de qualquer cerveja, pode, de fato, faltar no mercado no próximo ano, em função dos problemas da última safra, além de explicar como fatores externos provocaram a alta dos preços do cereal.

Leia também – Fabricação de bebidas alcoólicas segue indústria e recua pelo 5º mês consecutivo

Confira a entrevista de Ricardo Negretto, diretor técnico e comercial da Granobrew, ao Guia:

Há relatos de quebra da safra da cevada e de alta do preço do malte. Qual é o cenário exato dessa cultura e como se explicam essas dificuldades?
O grande influenciador do preço do malte é a safra da cevada, que costuma ser em setembro e outubro, dependendo se é da Argentina, do Canadá, da Europa… E a safra é que vai determinar não só o preço, mas a qualidade da cevada cervejeira que será utilizada no processo. Houve acontecimentos, que, junto com uma pandemia, geraram altos custos. Ocorreu uma inflação nunca vista na história da Europa, dos Estados Unidos, atrelada a um problema de disponibilidade de contêineres e de frete marítimo. A safra da cevada foi um pouco complicada, teve quebra, e, inclusive, a qualidade da cevada cervejeira se comprometeu. Hoje nós temos um aumento significativo do custo da cevada cervejeira e dos custos de produção do malte. Você ainda tem também a questão do frete marítimo, que subiu tremendamente. E o gás natural, que vem da Rússia, subiu muito nos últimos seis meses.

A alta do preço do malte é o maior desafio para o próximo ano?
Tudo isso que disse vai se somando, fazendo parte da composição desse aumento de preço para 2022. Tem muitos fazendeiros que estão segurando as vendas para subir ainda mais o preço da cevada. Não só existe um aumento significativo do custo do malte para 2022, mas também há o desafio da disponibilidade do produto. Isso mexe muito com várias empresas. A hora dos contratos para 2022 é agora. E eles são feitos baseados nesses novos custos. E talvez você nem consiga fixá-los. E, se você bobear, fica sem produto, mesmo querendo pagar mais caro.  

E como a Granobrew tem buscado lidar com essas incertezas?
A gente tem tentado analisar todos os riscos, porque qualquer importação hoje tem risco de variação cambial, de preço, de custo. Tento estudar bastante, ler, polir a bola de cristal para ter uma visão de futuro, minimizando riscos. Mesmo quem toma a atitude de, nesse contexto, deixar de importar se coloca em um risco, porque você não vai atender o mercado e não sabe se vai reavê-lo. Eu converso com o maior número de pessoas, no mundo, para entender todos os impactos e tendências Por exemplo, estamos falando que poderá faltar malte. Mas aí imagine um lockdown no Brasil por causa da nova variante. Ao invés de faltar, pode até sobrar… As incertezas são muito grandes.

Então existe risco de faltar malte para a indústria cervejeira em 2022?
Eu diria que existe. Houve uma quebra de safra de algumas toneladas. E a gente não sabe para onde isso está sendo direcionado. Quem vai ficar sem essas X toneladas, sendo que o mundo consumiu igual, mesmo em pandemia no ano passado? Então a pergunta é: quem vai ficar sem? Essas variáveis podem acontecer comigo ou com qualquer um do setor. Eu li bastante, por exemplo, que, após as duas grandes guerras, havia um consumo exacerbado. Agora, a pandemia influenciou o mundo inteiro e há essa demanda reprimida. Só que no período pós-guerra, você tinha capacidade produtiva. Hoje, essa demanda reprimida poderá ser abafada por conta do aumento do custo desses produtos que poderiam ser demandados.

Como as cervejarias devem se comportar diante de um cenário tão complicado envolvendo a cultura do malte?
Eu acredito que contratos de fornecimento seriam uma forma de você ter uma garantia de volume. As cervejarias, às vezes, têm medo de se comprometer com o volume, pelo risco de vir uma terceira onda (do coronavírus). Você pode garantir, hoje, o volume, mas a questão de preço, você vai ter que fazer revisões até mensais por causa da oferta de malte lá fora.

Como foi esse processo de desligamento da Granobrew da Corbion? Já é possível avaliar os resultados iniciais desse “voo solo”?
Eles resolveram separar essa unidade que havia dentro da Corbion. Criei uma empresa independente, separada e nós compramos essa unidade de negócio, com todos os clientes e estoque. E desde 1º de julho, nós começamos a fazer este voo solo. Por incrível que pareça, nesse voo solo, a gente começou a ter uma velocidade um pouco maior. Antes, estávamos dentro de uma multinacional e agora há um entendimento maior de um mercado específico e com um poder decisório muito mais efetivo. Nós conseguimos em setembro os nossos melhores números de vendas da história da unidade, ou seja, dos últimos três anos e meio. Então, já estamos tendo resultados positivos, mas o desafio continua sendo muito grande.

Coincidentemente, a separação da Corbion se deu no mesmo momento de retomada do setor cervejeiro. É possível fazer uma avaliação dessas duas fases do ano tanto para o segmento como para a empresa?
No primeiro semestre, a gente estava dentro de uma segunda onda e dentro da Corbion, que tinha estrutura e lastro para suportar essas variações. A empresa independente é mais suscetível às variações. E foi interessante porque a gente assumiu dentro de uma retomada. Como eu acompanhava desde o começo, deu para entender que vinha em uma crescente desde o início do ano até agora. E, praticamente, essa curva se manteve, mesmo tendo, no meio do caminho, duas gestões diferentes. Mas a gente fez tudo de forma muito tranquila, seja com os fornecedores lá de fora, mas também com os clientes, que foram os que menos sentiram essa transição. A gente preparou todo um estoque estratégico, antecipamos algumas estruturas internas, foi tudo feito a quatro mãos.

Quais são as perspectivas da Granobrew para 2022?
A gente está trabalhando com alguns contratos interessantes e robustos para o ano que vem, temos algumas parcerias também, que possivelmente virão em forma de lançamento para 2022, aumentando nosso portfólio. Apesar de todas essas volatilidades, de custo, inflação, economia, câmbio, logística, minha projeção para 2022 é melhor do que 2021. Espero um crescimento acima de dois dígitos.  

Além do malte, vocês fornecem óleo de lúpulo no mercado nacional. Como tem sido a recepção a esse produto e quais são as expectativas em relação a ele para o próximo ano?
É um produto inovador, várias pessoas testaram e aprovaram. A gente começou há dois anos e meio. Estamos tendo resultados positivos em pequenas, médias e grandes cervejarias. O grande atrativo desse produto é que ele só trabalha a parte aromática da cerveja, não dá amargor. Você pode botar ali algumas gotinhas milagrosas e transformar a sua cerveja em uma com potência aromática interessante. É um mercado que a gente vai explorar um pouco mais agora em 2022. Já temos as versões solúveis, que antigamente nós não tínhamos, o que vai ser um divisor de águas. E é um produto que não é aplicado só em cerveja, mas também pode ser em uma água flavorizada, uma água tônica, no refrigerante, no café, numa linha de cosméticos, em um sorvete.

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