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Os efeitos da profissionalização do sommelier de cervejas ao setor

Especialistas apontam que função deverá evoluir e ajudar na expansão do setor cervejeiro a partir da sua profissionalização

Uma reivindicação histórica dentro do setor de artesanais será, enfim, atendida. A função de sommelier de cervejas vai ter o reconhecimento de profissão a partir de 2022, sendo incluída na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério da Economia.

A titulação sommelier de cerveja – além de sommelier de cachaça e sommelier de saquê – será incluída com o código 5134-10, na família ocupacional 5134, que trata dos trabalhadores no atendimento em estabelecimentos de serviços de alimentação, bebidas e hotelaria. E a decisão animou os profissionais do segmento, que, consultados pela reportagem do Guia, a celebram como uma importante conquista.

Para eles, importantes aspectos poderão ser melhorados na atuação cotidiana a partir do reconhecimento do sommelier de cervejas como uma profissão. Neles, estão inseridos a uniformização – que poderá redundar em maior valorização da categoria -, a evolução da atividade, o aumento da credibilidade dos envolvidos na função e a chance de se ajudar na inclusão e democratização do setor.

“As demandas passam pelo reconhecimento efetivo no mercado, pela empregabilidade e pela valorização da atividade. Isso leva tempo, mercado e profissionais em franco amadurecimento”, argumenta Cilene Saorin, sommelière, mestre-cervejeira e diretora de educação da Doemens Akademie para América Latina e Península Ibérica, lembrando que a profissão surgiu no mundo apenas em 2004.

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“É uma profissão extremamente jovem aqui no Brasil. Penso que a principal demanda é o reconhecimento por lei dessa profissão e, por conseguinte, uma uniformização, o que facilitará o exercício do trabalho e a maior unidade entre os profissionais até para se buscar políticas públicas e maior valorização da categoria”, acrescenta a sommelière Sara Araújo.

Já Ivan Tozzi, sommelier e fundador da Three Hills Cervejaria, aponta que a profissão tem uma série de desafios, que começam na sequência da formação, com a dificuldade de se encontrar um emprego. Mas, para ele, a busca por melhorias coletivas, como a adoção de um piso salarial, se torna mais factível a partir de agora.

“O que precisamos é aproveitar essa oportunidade para nos organizar enquanto profissionais e exigir pisos e melhores condições para atuação real”, destaca Tozzi, também avaliando que pode haver mudanças positivas na grade curricular da formação desse profissional.

Tornar o sommelier de cervejas uma profissão vai trazer, ainda, segundo ele, credibilidade para quem atua na área, além de exigir mais qualidade. “De repente, também pode levar a uma maior fiscalização de quem hoje atua levando o nome de sommelier, mas sem formação ou mesmo uma experiência necessária”, comenta o fundador da Three Hills.

O sommelier Daniel Lima, por sua vez, concorda que o reconhecimento da função trará visibilidade aos profissionais, resultando em oportunidades e credibilidade, o que pode exigir esse “rigor maior” no desempenho da função.

“O reconhecimento de que existe essa categoria, digamos, empurra e abre espaços dentro da cadeia de alimentos e bebidas. Então, é importante no cenário brasileiro onde o número de cervejarias aumentou quase dez vezes em uma década. Não só para fazer essa interface com o consumidor, mas até para garantir que essa produção possa também ter o aconselhamento e a visão crítica de um sommelier de cerveja”, aponta Daniel.

Amadurecimento do setor
Na visão da sommelière Natália Noronha, a inclusão também é um passo importante para toda a cadeia cervejeira. “Isso ajuda todo o setor, que vai poder contar com colaboradores cada vez mais capacitados e qualificados para a função”, argumenta a sommelière da rede Mestre-Cervejeiro.com.

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Cilene Saorin também acredita que a profissionalização do sommelier de cervejas pode representar um passo importante para consolidar o segmento de artesanais no Brasil. “Essa profissão tem se apresentado essencial na construção de um público gastronômico maduro em relação à cultura das cervejas. O reconhecimento da categoria ‘Sommelier de Cervejas’ no CBO é um passo importante na consolidação dessa profissão no Brasil”, diz a diretora da Doemens Akademie para América Latina e Península Ibérica.

A democratização é outro fator importante que pode ser atingido com a medida. Mais do que apenas o reconhecimento da profissão de sommelier de cervejas, segundo Daniel Lima, a ampliação do mercado de trabalho e a melhoria das oportunidades passam pela necessidade de o setor de artesanais se tornar mais inclusivo, com a entrada das classes C e D no segmento.

Para ele, essa inclusão passa, também, pela capacidade do sommelier de cerveja de se comunicar com quem ainda não faz parte do setor. “É uma relação dialética. Ao mesmo tempo, o sommelier vai ser formado e ter a medida que esse público se amplia. Mas, ao mesmo tempo, esse público que se amplia vai depender do sommelier de cervejas, não como uma elite, e sim como um discurso que possa abrir as portas das especiais para estes novos públicos”, explica Daniel.

Funções da profissão
Entre as atribuições do sommelier de cervejas estão a organização de eventos de harmonização e degustação, a elaboração de cartas de cerveja, o acompanhamento da qualidade da bebida no ponto de venda, o treinamento de equipes de atendimento e a seleção de rótulos para distribuidoras e importadoras, além da orientação do consumidor para um consumo que priorize a qualidade.

“Não é somente fazer avaliações sensoriais do produto, falar sobre cervejas e cultura cervejeira em geral, o que já demanda um conhecimento profundo. Mas, também, precisa saber conduzir todo o serviço corretamente, controlar o manuseio de equipamentos (como chopeiras ou câmara fria). Basicamente, você está lidando com manipulação de um produto alimentício e, para entregar isso para alguém, precisa ser seguro”, analisa Natália Noronha. “Algumas pessoas entram nessa área por gostar de beber cerveja, mas o dia a dia é muito diferente disso.”

Já Sara Araújo avalia que o reconhecimento da existência de uma ocupação é um passo significativo, uma vez que hoje, no Brasil, a única categoria de sommelier reconhecida por lei é a do vinho, instituída em 2011. E lembra que ainda há passos a serem dados para a regulamentação da profissão de sommelier de cervejas.

“A CBO não tem caráter normativo e, sim, classificatório. É bastante pertinente consignar que tudo é político e os próximos passos para regulamentação da profissão terão que ser feitos por lei, cujos trâmites passam pelas casas legislativas e são submetidos à sanção do/a presidente/a da República”, ressalta Sara.

A CBO centraliza, descreve e classifica todas as profissões do mercado de trabalho brasileiro. E, para a coordenadora de sommelieria da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), Fernanda Bressiani, a conquista reflete o momento de expansão do setor de cervejas artesanais no Brasil.

“De 2010 para 2019, o número de cervejarias passou de 226 para 1.209, de acordo com o Mapa. A quantidade de marcas e opções praticamente quintuplicou em uma década. O sommelier de cervejas tem um papel fundamental nesse mercado, já que faz a interface da produção com o consumidor. É um disseminador muito importante da cultura cervejeira. Portanto, esse é um reconhecimento para todos que integram essa cadeia”, finaliza Fernanda Bressiani.

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